domingo, 10 de novembro de 2013

A verdade de uma historia - ANA

Um dia igual a tantos outros, aborrecido, rotineiro, até que…
Uma criança, larga a mão da mãe, e dirigindo-se a mim, pergunta:
- O Sr, pode levar-me a mim e à minha mãe a casa? – a minha mãe não tem dinheiro agora, mas pode pagar outro dia? Sr. A minha mãe está muito cansada e não temos autocarro.(23H10)
- Levo-te, se me disseres o teu nome princesa.
- Ana, oiço alguém a chamar. Que estás a fazer?
- Mãe o sr. Taxista leva –nos a casa, por favor, diz que sim, estamos muito cansadas…
Vendo esta cena comovente abro a porta do carro e chamo:
- Ana, trás a tua mãe, e entra no táxi, por favor.
Os olhos da Ana brilhavam, enquanto os da mãe, estavam regados de lágrimas que tentava a todo o custo esconder.
- O sr. Já sabe como me chamo e agora quero saber como se chama o sr.
- Henrique, respondo.
- Muito prazer sr Henrique, a minha mãe é a Lucília.
Desenrola-se uma conversa difícil de classificar.
Fico a saber que o pai de Ana tinha morrido há pouco tempo e diz que é ela que toma conta da mãe, e que um dia vai ter muito dinheiro e que a mãe não terá de trabalhar mais.
Foi gratificante ver a ternura e o amor que esta criança nutre pela mãe.
No final, já á porta de casa e de semblante triste, Ana com voz quase imperceptível, diz:
- Sr Henrique a minha mãe não tem dinheiro para pagar mas prometo que assim que o trabalho dela lhe der dinheiro pagamos ao sr.
- Ana, depois de um dia de trabalho aborrecido, tu foste a melhor coisa que me aconteceu e eu não vou aceitar que pagues o táxi.
- Mas…sr Henrique, é o seu trabalho nós queremos pagar!!!
- Ana, tu nem imaginas a fortuna que acabaste de me dar, acredita. Com esse dinheiro compra um presente pra ti.
- Obrigado, Obrigado, Obrigado sr Henrique…mãe, vês, já podemos comprar iogurtes!!!
Fiquei sem reacção.
Lucília quase não teve permissão para falar, excepto para agradecer e dizer algo que me deixou ainda mais de rastos.
- Sr. Henrique, a minha filha tem leucemia…
A PORTA DO TAXI FECHOU-SE.


Ana, tu és uma lutadora, e um dia destes voltaremos a cruzarmo-nos… penso. Toda a sorte do mundo pra ti ANA. 
Esta história verídica aconteceu na Estação da CP de Oeiras.

domingo, 25 de agosto de 2013

ISABEL saudade

Saudade dos teus beijos
Do sabor do teu mel
De discutir os teus desejos
De te chamar amor, Isabel

Passeias em mim sorrindo
De totiço preso com cordel
Despreocupada cantas subindo
Às nuvens com o nome, Isabel

És boneca de pele sedosa
Como as pétalas de flor papel
Tens espinhos mas carinhosa
Guardas o nome de Isabel

Fecho os olhos vejo teu rosto
Cheio de charme e cumplicidade
Que brilha como o sol de agosto
A fazer lembrar ISABEL saudade

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Ponte do amor

Entre mim e ti, a ponte
Separa nosso orgulho ferido
Um amor que jorra da fonte
As lágrimas no leito perdido

Do quarto avisto esse rio
Onde corre o amor desfeito
Pergunto triste, se o viu
Responde mudo, sem jeito

Percebo, é o meu destino
A falar da minha justiça
Quando procuro novo inquilino
Acho uma paixão postiça

Desejo que a ponte desabe
E quebre para sempre o vazio
Para que este amor não acabe
A ponte que nos separa ruiu

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Pecado

Quando pensar é pecado
O fruto é apetecido
Imagino-o descascado
Nas noites adormecido

Talvez pecado seja mulher
Que se olha com prazer
Com olhos de bem lhe quer
E pensamento em mexer

É um pecado maldoso
Ao querer passar a mão
Pois implica ser habilidoso
Para lhe agarrar o coração

Agarrar com vontade
Em sentir o seu sabor
E ao comer com saudade
Sou apelidado de pecador

Diário

Livro fechado reserva história
Que  guardo debaixo d'almofada
É o diário da minha memória
De relatos escritos de madrugada

São frases inventadas no soalho
Duma vida rica em segredo
Escondem as estrias do orvalho
Que escorrem nos traços do enredo

É uma novela trágica sem fim
Com personagens de várias cores
Vão ensaiando o papel por mim
Enquanto curo doença d'amores

Cambaleio bêbado mas não caio
Agarro ar no momento certo
Sôfrego respiro brisa de Maio
E agora sim, livro aberto

domingo, 21 de julho de 2013

Prostituta

Corpo liberto de sentimento
Prende a alma da indiferença
Convidada a mostrar o fomento
Por patacas dá a sentença

Em fila, chave abre a porta
Sem convite, entra a servir
De tesoura nas pernas, corta
Já lá dentro, lágrima a cair

Explicita dor no peito aperta
Realidade dolorosa e crua
Deitada na cama fria aberta
Olha o tecto, sentindo-se nua

Finda a tarefa de novo ela
Sozinha no mundo da labuta
A lembrança fica na janela
Onde mostra dotes de prostituta

Comboio

O comboio serpenteia a linha
Radiante leva toda a gente
Pára aqui, acolá, cabeças à pinha
Acena fumo ao vento poente

De chinelos calções ou gravatas
Todos apanham boleia do trem
Até aqueles que são os empatas
Que reclamam quando não vem

Garotos nos barões pendurados
Sacanas, grita a dona Chica
Fogem a rir despreocupados
Quando ao fundo avistam o pica

Fofocas fazem a conversa
Das tias que comentam o alheio
Descascam na vizinha sem pressa
Encantadas pelo excelente paleio

domingo, 12 de maio de 2013

Mãe

Brotaste no ventre meu feto
Fruto de semente mãe nascida
No conforto abençoado em afecto
Vive a esperança de nova vida

És mãe protectora do fruto
Inocente nos braços do teu colo
Sou frágil como diamante bruto
Seguras-me no peito meu consolo

Oh minha mãe, como és linda
Vejo tua luz de olhos fechados
Teu amor é ouro e não finda
Mesmo nos dias mais enevoados

Tuas lágrimas são doces de sal
Que correm nos trilhos da idade
Abençoadas por amor sem igual
Guardam para sempre a mocidade

sábado, 20 de abril de 2013

Cidade

Noite é noite, pois dorme
Calma escura, cidade quieta,
Barulhenta ou não, é conforme
O tempo,  enfim, a desperta

Semblantes tristes de motivação
Lutam contra suas misérias
Despercebidas as rugas da multidão
Denotam há muito falta de férias

Noite é noite, mas acorda
Rotina dos rostos está de volta
Correria desajeitada não engorda
Ouve desabafos na boca solta

Cava os bolsos de ar, procura
Migalhas feitas de nada, encontra
Lucidez mimada e sóbria atura
Cidade à beira mar como montra

Canção

Sentado, escrevo esta canção
Ritmada ao compasso da palma
Acompanhada nas cordas do violão
Pela palheta suja, louca d'alma

Notas desconsertadas em poema
Compõe dominó de pedras gastas
Alinhadas na ordem do tema
Rubricam autor de palavras castas

Receio vocábulos, significado vadio
Cantadas na boca d'algum calão
Deixadas na água, evaporam no rio
Nascem novas enquanto canção

Juntas, musica compõe melodia
De letra culta, tenra de infância
A idade é curta parece sinfonia
Assinada com o cheiro a fragância